Leiturize-se

"Ser uma Hoffer é quase como ser uma marca, um padrão de qualidade. Todas parecem ter saído da mesma fôrma: são lindas, loiras e altas, curvas proporcionais que sempre lhe creditam alguns anos a mais do que está registrado nas suas certidões de nascimento, mas não de uma forma ruim, e sim de uma provocante. Todas menos eu, uma coisinha, que, ainda alta, comparada às garotas da minha idade, estava meia cabeça mais baixa que as gêmeas, eu que, em vez de olhos com uma tonalidade ímpar de azul ou verde, possuía olhos negros, como breu, de puro piche."

"Esse tempo todo eu estive apenas me enganando, achando que podia controlar alguma coisa, que podia fugir ou lutar contra isso, mas eu era dele, eu estava inteira com ele, o mundo ruía ao nosso redor e não faria diferença, desde que ele me amasse naquele exato momento."

"Ainda sim, eu o observava, e possivelmente por isso eu tinha a impressão de tê-lo visto fazendo o mesmo. E quando nossos olhares se cruzavam, tanto na escola como agora, parecia como ontem no píer em que eu quase tinha me desmanchado no chão, um arrepio percorrendo toda minha coluna, fazendo-me dar um leve salto, mesmo sentada, e as borboletas do meu estômago acordando, tentando sair pela boca."

"Havia mistérios sobre ele que eu talvez jamais descobrisse, além do que eu já estava acostumada a mistérios com a minha família estranha."

"Era impossível que alguém pudesse mexer tanto assim comigo, era ridículo, patético, mas arrebatador."

"Despedi-me inúmeras vezes de nós dois, de tudo que passamos juntos, da vida que tínhamos sonhado, dos nossos beijos, das nossas brincadeiras e de como ele tinha um jeito de me tocar que me fazia sentir a pessoa mais especial do mundo."

"Mas o que eu mais gostava era a forma como ele olhava para mim. Eu não podia ter certeza se era apenas para mim, mas, às vezes, ele me olhava como se não existisse mais ninguém neste mundo ou, talvez, por estar tão apaixonada, era eu quem me perdia nos seus olhos e esquecia o resto."

"Mas, ao lado dele, apesar de tudo o que podia ter dado errado, eu não me preocupava. Era como se fosse a história de outra pessoa, ou um filme, em que você até se envolve com o enredo, mas ele parece distante, como se isso nunca pudesse te atingir. Era incrível como as feridas perto dele não apanas cicatrizavam mais rápido, mas se curavam como se nunca tivessem existido. Eu não sabia como, mas era exatamente o que acontecia. Era inebriante e assustador alguém despertar tamanho efeito sobre mim."

"Ukel começou a refletir sobre o que estava acontecendo em sua vida. De uma hora pra outra perdera tudo que havia demorado tanto tempo para conquistar e pelo que havia feito tantos sacrifícios. Perdera a mãe, o respeito e a bondade das pessoas. Naquela cidade Ukel nunca mais encontraria ninguém que o acolhesse, tudo isso para poder ter o controle de tudo e de todos. No final das contas percebeu seu egoísmo e o assumiu como virtude. Ele era o cidadão mais temido de Gor, praticamente liderava o primeiro e único clã de ladrões da região e conseguia comandar a cidade por si só, já que a guarda real não ousava enfrentá-lo."

"Como o espião conseguiu desviar com tanta facilidade de seu soco e deixá-lo preso daquele jeito? O estilo de luta de Leiram lembrava muito o de Ukel. O garoto chegou a considerar que o mesmo estava o espionando para aprender seus golpes, e depois aplicá-los nele mesmo. A ideia de ter alguém que conhecia todos os seus movimentos era perturbadora, e isso significava que era hora de se reinventar."

"Meri não dizia nada e por todo o caminho seguiu de cabeça baixa, imaginando talvez quando foi que seu amigo de infância havia se tornado aquele ser frio."

Os capítulos são separados assim e todos tem algarismos romanos.

"Guerreiros de outras cidades e até de outros continentes próximos vinham treinar na escola de guerra de Gor, que não era muito reconhecida, mas formava soldados razoáveis. Os melhores alunos normalmente depois do treinamento iam para Curi onde teriam a chance de agir como soldados de verdade."