Livro: A Teia dos Sonhos
Autora: Karine Aragão
Páginas: 160
Editora: Muiraquitã
Tema: New Adult.
Autora: Karine Aragão
Páginas: 160
Editora: Muiraquitã
Tema: New Adult.
Sinopse: Com uma narrativa envolvente, A Teia dos Sonhos apresenta aos jovens leitores a beleza e o poder da amizade, a dor de uma perda, o caminho da superação e, no meio do caos, o amor. Uma história sobre a difícil tarefa de crescer e aprender a perdoar aquilo que jamais será esquecido. Nessa jornada do amadurecimento, A Teia dos Sonhos nos mostra que para ser feliz é preciso estar vivo.
"Todos nós temos um aspecto na vida que nos deixa inseguros, o de Bernardo era a carreira, o meu era a paixão que crescia por ele."
O livro conta a história de Júlia, uma adolescente que tem muitos problemas, convive com a separação dos pais e o distanciamento da mãe e que tem uma melhor amiga chamada Laura.
Elas são tipo melhores amigas em tudo. Tem os mesmos gostos, as mesmas preferências musicais e até são apaixonadas pelo mesmo garoto. Estão comemorando cinco anos de amizade e resolvem fazer algo especial para que essa data fique marcada. Então surge a ideia de uma tatuagem na qual Júlia é impelida a desenhar e levam até o tatuador. As coisas mudam quando Laura comete suicídio e se joga da janela do décimo terceiro andar, deixando Júlia sem respostas para o tal ato até que a menina decide investigar e acaba descobrindo coisas que ela nunca imaginou sobre a amiga.
O livro, apesar de tratar de um assunto tão delicado como o suicídio, aborda de forma leve e natural, explicando ao leitor como adolescentes também podem ter problemas internos e por não conseguir encontrar a saída, acabam cometendo tal ato.
"A gente vai se sentindo cada vez mais sozinho, cercado de pessoas que não nos compreendem. São pais, professores e avós que não param de falar que nossa vida é perfeita, que somos ingratos, que reclamamos sem motivo, que deveríamos agradecer a Deus por tudo o que ele nos oferece, que estamos de frescura, que a gente não tem problema, que problema de verdade têm as pessoas que estão doentes no hospital, que dormem nas ruas, ou que moram na África, abandonadas e subnutridas."
No decorrer da história é possível ver Júlia em todos os estágios do luto e Bernardo, que era o garoto pela qual as duas amigas eram apaixonadas, entra em cena para ajudar Júlia a desvendar os fatos ocultos da morte de Laura.
A trama mostra com clareza como era a amizade delas, todos os trabalhos eram feito juntos, não se desgrudavam pra nada. Uma tinha a senha do Facebook e das demais redes sociais da outra. Na casa de ambas haviam várias fotos espalhadas e com esse cenário eu me senti mal pela perda de Laura, porque elas eram muito mais do que simples amigas, eram irmãs. Se existisse alma gêmea de amizade assim como existe de amor, eu poderia dizer que eram essas.
"O perito parecia comprimido como se o mundo caísse em cima de mim a cada respiração. O braço latejava sem parar. Onde ela estava agora? Eu precisava falar com ela, saber por que ela tinha feito isso, com ela e comigo. Porque agora ela era eterna em mim e, ao mesmo tempo, eu nunca mais a veria nas minhas manhãs."
O que me chamou muita atenção foi o fato de abordar sobre a família, amizades e a adolescência. Que mesmo não tendo todas as respostas que queria, Júlia conseguiu seguir em frente após um período de luto bem extenso.
Imagino que não deve ser fácil perder uma amiga, afinal já dói tanto quando perdemos alguém conhecido, imagina sua melhor amiga morta? O que fazer? Com quem contar? Pra onde ir? Esses foram alguns questionamentos que Júlia fez e percebemos como ela fica desorientada com isso.
Outra coisa bem legal foi conhecer um pouco melhor Bernardo e o que ele trouxe de bom para a protagonista. É como se tivesse surgido uma luz em plena escuridão, um caminho seguro a ser seguido em meio a tantos caminhos tortuosos.
"Não era como brigar com alguém, se arrepender e depois fazer as pazes. A morte era definitiva, e a saudade um sentimento estranho de impotência. Você pode gritar, chorar, brigar com o mundo, mas nada do que você faça pode trazer à vida."
Há também a presença da mãe de Júlia e o fato como há uma deficiência muito grande na relação com a filha e no decorrer das páginas acompanhamos também não só a transformação da menina como da mãe também e como elas encontram uma saída para resgatar a amizade.
Toda a história é narrada de forma natural, pelo ponto de vista de Júlia e a autora conduziu os acontecimentos com maestria e com riqueza em detalhes, de maneira que nada foi corrido ou postergado.
Acima de tudo, a história mostra que adolescentes também podem ter problemas, não é apenas "frescura" ou pra chamar atenção. Muitas das vezes os filhos podem estar gritando por socorro de forma indireta e os pais não lidam com a situação da maneira correta, justamente por pensarem que é apenas mais uma forma do adolescente querer aparecer para a sociedade. Acho que toda trama tem uma mensagem muito importante e ainda penso que esse livro deveria ser lido por todos como forma de conscientização sobre um tema que muitos pensam que é irrelevante.
"Enquanto ele nunca tinha chegado perto de mim, era fácil mantê-lo afastado, mas, agora, ele era o único conforto que eu tinha, o único que não me olhava como se eu fosse uma coitada em sofrimento."